Sobre vencer na vida
A procura de um caminho certo só tem aumentado a nossa ansiedade. Desde pequenos, somos ensinados a tirar boas notas, passar de ano, estudar para o vestibular, entrar em uma faculdade, nos formar, conseguir o emprego dos sonhos e construir uma família.
No fim, tratamos a vida como um grande filme, em que basta seguir um roteiro, pois sempre nos foi apresentado desta forma.
Desde pequeno, fui ensinado que a dor e o esforço levam ao sucesso. Lembro que grande parte dos filmes que vi durante a vida partem da premissa de que o mocinho(a) da história vai ter que ralar muito na vida, tendo vários desafios, mas, depois de muito esforço, tudo dará certo.
A paixão por este tipo de história não termina só na ficção. Amamos quando vemos uma história de superação real e muitas vezes tomamos-ade modelo. Quem nunca ouviu falar de alguém que veio de uma família simples, mas estudou e se esforçou tanto que acabou sendo aprovado em alguma universidade de ponta?
Não existe nada de errado na história em si. O problema é quando usamos ela como uma regra universal.
Vamos tomar como exemplo um caixa que não podemos ver o seu interior, mas sabemos que ela contém 100 bolas, que podem ser de cor vermelha ou branca e tem uma abertura superior onde podemos retirá-las. Ao colocarmos a mão dentro da caixa, retiramos uma bola vermelha, depois uma outra vermelha e isto acaba se repetindo por 6 vezes. Neste cenário, podemos concluir que a maior parte das bolas são vermelhas, ou até mesmo poderíamos começar a duvidar da existência de bolas brancas.
Porém, se abrirmos a caixa, vamos notar que, além da existência de bolas brancas, elas são maioria. O fato delas serem mais pesadas, acaba deixando-as no fundo da caixa. E graças a esta informação que não tínhamos, acabamos tirando conclusões precipitadas.
De forma análoga, quando tomamos histórias de superação como modelo, esquecemos que, muitas vezes, não sabemos todas as informações que as cercam. Por exemplo: “Esta pessoa só se dedicava a isso? Ou precisava trabalhar e cuidar da casa? Tinha outros afazeres?A saúde mental dela estava em dia? Como foi a formação escolar dela? Este tipo de história se repete ou é uma raridade?”. Estas conclusões equivocadas acabam gerando outras consequências em nossas vidas.
Quando tornamos o esforço a causa direta e única do sucesso, ignoramos tudo que conhecemos sobre a vida,afirmando assim que temos total controle sobre tudo que acontece ao nosso redor e que somos donos do nosso próprio destino. Definindo a vida como um jogo com regras claras e objetivas.
Uma vez que imaginamos a vida desta forma, incorporamos o pensamento “vencer na vida”. Assim, quando fracassamos em algum objetivo como não nos formarmos no tempo mínimo em uma universidade ou não conseguirmos nem ao menos entrar em uma, nos sentimos como perdedores. Mas será que existe isso de “perder na vida”?
Quando dizemos que alguém é vencedor, definimos que naquele momento o jogo acabou, porém, pelo que sabemos, a vida não funciona desta forma. Não morremos se não entramos na faculdade ou não conseguimos um certo emprego dos sonhos. Além disso, medir o quão sucedido na vida através de um único evento é reduzir a complexidade da nossa jornada ao máximo. Se o nosso mundo é um jogo, podemos definir ele como um “jogo infinito”.
Não sabemos com quem estamos jogando ou quanto tempo estamos jogando. Apenas sabemos que temos que continuar jogando e assim é a vida. Tendemos a nos comparar com histórias que achamos que conhecemos e esperamos resultados positivos de coisas que não temos controle, como prêmio dos nossos esforços na busca de procurar um caminho certo. Acabamos esquecendo de viver o presente para pensar no passado ou no futuro.
Desde que percebi que a vida não é um roteiro previamente escrito, comecei a conversar com alguns amigos e vi que muitos estavam sofrendo ou sofreram do mesmo mal, pelo mesmo motivo. Graças a isso, resolvi escrever sobre o que venho aprendendo com a minha trajetória, assim dando vida ao Quebrando o Caminho.
Como o projeto está bem no começo, não sei o que esperar dele. Tentarei ao máximo trazer temas que esclareceram melhor a minha mente em relação a vida e ao mundo, assim como alguns relatos de pessoas que fizeram alguns caminhos não-convencionais. Não tenho como objetivo escrever como se viver uma boa vida, mas relatar e compartilhar alguns aprendizados da minha jornada.
Se tiver algo que você esteja passando ou que queria que eu comente em textos futuros, deixa aqui nos comentários que a gente vai trabalhando nisso. Por hoje é só, e nos vemos na próxima!
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