Como Fazer Qualquer Pessoa Ser o Seu Mentor
“Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.” - Isaac Newton
Quando nascemos, trazemos o dom da ignorância. Chegamos ao mundo dotado somente dos nossos instintos de sobrevivência como comer e chorar. Então para seguir a nossa vida, vamos aprendendo com quem nos cerca, seja diretamente ou indiretamente. Desde modo, nosso aprendizado acontece por meio de observações que irei chamar de experiência ou por meio de outras pessoas que irei chamar de mentores.
Por muito tempo fomos limitados a mentores que estão em nossa volta, como amigos e conhecidos, mas não precisa ser assim.
Hoje eu tenho uma lista de mentores que partem de pessoas que viveram no tempo de Cristo e já morreram, como pessoas que ainda estão vivas mas eu nunca tive contato. Elas me ajudaram a construir todo o meu aprendizado e é sobre isso que eu quero falar.
Observações
Não é de hoje que utilizamos nossas observações ao nosso favor. O fato de sermos bípedes e termos polegares opositores, nos ajudou a carregar ferramentas que foram úteis para a nossa sobrevivência. Porém, nossa visão e capacidade mental foi de grande ajuda. Animais com visão frontal, como a dos humanos, conseguem focalizar o que está perto e identificar detalhes. Algo que é importante quando estamos falando de aprendizado por observação.
Em 1990, alguns neurocientistas fizeram experimentos com alguns macacos. Eles descobriram que determinados neurônios eram ativados tanto quando os macacos exerciam uma determinada atividade como puxar uma alavanca para ganhar amendoim ou segurar uma banana, tanto quando eles observavam outros macacos fazendo a mesma coisa. Estes neurônio explicam a capacidade dos primatas de aprender com a observação. Eles ficaram conhecidos como neurônios-espelho. E nós humanos também somos detentores dele porém com um nível de sofisticação elevado.
Com possibilidade de aprender com a observação, o homem não só conseguiu fazer previsões de ações futuras de predadores, como também utilizou desta técnica para fabricar ferramentas imitando ações de especialistas. Estes especialista na verdade eram os nossos mentores.
Quem são os seus mentores?
No curso da história, encontramos vários personagens que tiveram os seus mentores. Alexandre o Grande teve como mentor o Aristóteles. Socrates foi mentor de Platão. Martin Luther King Jr. tinha Gandhi como mentor assim como diversos outros exemplos. E não são só grandes nomes que tiveram mentores, você provavelmente já teve alguns.
Na nossa formação escolar, temos os nossos professores. Para quem cursa faculdade, existe a presença do orientador. No trabalho, se você precisa de algum treinamento para exercer a sua função, alguém vai acabar te orientando. Todos eles podem ser exemplos de mentores. Mas, e se você quiser um mentor que fosse especialista em uma área que você deseja alcançar, como por exemplo investimento financeiro, onde você buscaria um especialista? Certamente você poderia procurar algum influencer ou amigo que seja especialista neste campo, porém porque só continuar no nosso ciclos de conhecidos e não ir além?
Hoje temos praticamente qualquer conhecimento do mundo disponível em alguns clicks. Para 99% dos problemas que você quer resolver, teremos vários livros, aulas e artigo distribuídos pelo mundo. Para ter ideia do alcance de conhecimento que temos, podemos fazer coisas como assistir uma aula com um dos maiores professores do mundo, Richard Feynman, ou ter em nossas mãos os pensamentos de um dos maiores imperadores romanos, Marcus Aurelius. E se podemos ter acesso a estes materiais, podemos fazer qualquer pessoa nosso mentor.
Você já se viu completando a frase de um amigo? Ou já sabia o que ele ia falar antes mesmo dele falar? Isto acontece graças a grande quantidade de tempo que você passou com ele. Você começou a entender como a mente daquela pessoa funciona. De forma análoga, esta é a meta para ser alcançada com um mentor. Com a ajuda da internet e dos livros, podemos recolher todo o material sobre alguém e começar a entender como aquela pessoa pensa. Assim conseguiríamos inferir como ela agiria.
Um exemplo de mentor que eu tenho é o Nassim Taleb. Ele me ensinou tudo que eu sei sobre correr riscos e como enfrentar eventos desconhecidos. Nós nunca nos falamos, mas eu já li todos os seus livros, vi diversas palestras com ele e coloquei algumas de suas teorias em prática.
Porém fazer isso quando já se sabe onde procurar pode parecer fácil. Por exemplo, o fato de saber que o Richard Feynman tem um método de aprendizado interessante, descobrir este método e como ele adotava-o fica a um click de distância. Porém quando não se sabe quem poderia ser um possível mentor, temos que dar um passo atrás.
Achando o seu Mentor
Uma vez que não sabemos que pessoa pesquisar para ser o nosso mentor, temos que buscar informações sobre a área que queremos ter um mentor. A tarefa é simples, mas trabalhosa. Consistem em ler tudo que encontrar de forma rápida sobre o campo. Livro, blog e etc. Desta forma você vai começar a identificar as pessoas que vão ter mais afinidade com você. Para deixar as coisas mias práticas, vou dar um exemplo de um pesquisa que eu fiz recentemente.
Eu estava super curioso sobre pensamento sistemático e fui na minha fonte de conhecimento para assuntos iniciais, a Wikipédia. Nela, existe uma página somente sobre pensamento sistemático. Lá, eu pude ter uma ideia mais geral sobre o tema. No final do arquivo, existe um referência bibliográfica, onde o primeiro livro é The Fifth Discipline. Na página deste livro na amazon, eu consegui ver um pouco sobre a obra e duas coisas me agradaram bastante: a forma que o autor dividiu os conteúdos e o fato do livro ter sido escrito em 1990 e continuar relevante até hoje. Isso indica que alguma coisa boa ele deve ter. Também descobri na área de livros relacionados, uma segunda obra chamada Thinking in Systems. Fiz uma pesquisa rápida e descobri que este é livro que muitos indicam para iniciar os estudos em sistemas. E a partir destes dois livros eu devo começar a saga para entender melhor o pensamento sistemático e quais pessoas poderiam me ajudar neste caminho.
Da mesma forma eu procurei sobre Filosofia, comecei a ter afinidade com o estoicismo e hoje posso dizer que Marcos Aurelio e Sêneca foram dois grande mentores meus.
Antes de finalizar este artigo, eu gostaria de enfatizar dois grande erros que cometemos quando tentamos estudar o que nossos mentores fizeram: O endeusamento e a falta de crítica.
Mentores são antes de tudo humanos
É de grande importância humanizar os mentores. Ele são ou foram pessoas e assim como qualquer humano, eles podem cometer erros, principalmente em áreas que não são o seu foco. Um exemplo que eu poderia dar é Steve Jobs. Ele é um fenômeno quando olhamos para o movimento maker ou vemos as apresentações dele. Cansei de olhar as apresentações que ele fazia para obter mais recursos para as minhas próprias apresentações. Porém não o vejo como um espelho de pessoa a ser seguida, principalmente no setor familiar. O fato dele ser um gênio em diversas áreas não o faz uma pessoa superior ou sem erros.
Sobre a falta de crítica, como eu falei em um artigo anterior, eu sempre procuro ter um caráter ativo quando me vejo como leitor ou aprendiz. Tento entender como uma pessoa chegou naquela conclusão e muitas vezes vou a fundo na história do mentor. Procuro sobre a sua infância, onde estudou, privilégios e etc. Desta forma eu consigo ter total entendimento do seu contexto e consigo avaliar o que de fato posso trazer e aplicar em minha vida. Tanto que diversas vezes me vejo fazendo alguns experimentos para saber se o que o autor fala é verdade quando aplicado na vida real. Uma vez me deparei com um material onde uma das dicas de produtividade era comprar um notebook para projetos pessoais e deixar o seu notebook somente para lazer. Eu entendi o que o autor estava tentando passar mas aquilo era inviável para mim. Desta forma, escolhi criar dois perfis no meu computador. Um para projetos e outro para lazer. Resolvi o problema adaptando a solução ao meu contexto.
Para finalizar, gostaria de deixar duas considerações. A primeira é que espero que você consiga entender o alcance que temos através da internet e dos livros. Podemos não ter as pessoas que queríamos para ser mentores, mas temos acesso a grande parte dos seus conhecimentos espalhados no mundo.
A minha última consideração é que mesmo com todo este conhecimento disponível, se você tem um amigo por perto que está te ajudando pessoalmente, valorize o trabalho dele. Pois mesmo tendo disponível o materiais de escrita de Stephen King e William Zinsser, foi o meu amigo Luciano Ratamero que me ajudou a melhorar bastante a minha escrita.
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